sexta-feira, 16 de maio de 2025

 Fraude do INSS é usada como isca para aplicar golpes em vítimas de descontos; saiba como identificar

01.05.2025 - 08h00
Rio de Janeiro - RJ
A Controladoria-Geral da União (CGU) e a Polícia Federal (PF) deflagraram, no último dia 23 de abril, a “Operação sem Desconto”, que investiga a ação de associações e entidades suspeitas de aplicarem descontos ilegais na folha de pagamentos de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A CGU estima que entre 2019 e 2024, foram descontados de aposentados e pensionistas R$ 6,3 bilhões. No entanto, desse valor, ainda não se sabe qual parcela foi destinada aos descontos ilegais, ou seja, os não autorizados pelos beneficiários. Até o momento, um total de 211 mandados de busca e apreensão foram cumpridos, além de seis mandados de prisão temporária. Seis servidores foram afastados de seus cargos, incluindo o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, que foi demitido.
Enquanto o esquema ilegal de descontos repercutia nos noticiários, a Lupa identificou uma nova onda de golpes direcionados a aposentados e pensionistas do INSS. Nas redes sociais, começaram a circular publicações que prometem indenizações às vítimas dos descontos não autorizados. As mensagens indicam sites que, supostamente, permitem consultar valores indenizatórios que estariam sendo pagos pelo governo. Tratam-se de golpes. 
Até agora, o governo não está realizando a restituição de valores. “O plano de restituição [dos valores] ainda não foi definido”, informou o INSS em nota enviada à reportagem, destacando que a investigação sobre o caso ainda está em andamento.
Como medida, no entanto, o Instituto afirmou que os aposentados e pensionistas que tiveram desconto de mensalidade não autorizado no contracheque de abril deste ano terão os valores devolvidos na próxima folha de pagamento (maio). “A devolução dos descontos associativos não reconhecidos pelos beneficiários – ocorridos antes de abril de 2025 – serão avaliados por grupo da Advocacia Geral da União (AGU) que tratará do tema”, acrescentou no comunicado.
Confira a seguir dicas para identificar golpes que prometem reaver os valores e como se proteger: 

Alô? De onde fala? 

Assim como em uma ligação telefônica que você pergunta com quem está falando, no ambiente digital é preciso saber de onde vem a informação que você está recebendo. Em muitos casos, o que parece ser um conteúdo informativo pode, na verdade, se tratar de um golpe. Por isso, verificar a fonte é fundamental.
A principal forma de checar a confiabilidade de um site é analisar a sua URL, especialmente quando o link chega por redes sociais, e-mail ou até SMS. Se for um site governamental, por exemplo, o link sempre terá “.gov.br”, o que indica domínio federal. Assim, você sabe que está “falando” com uma página do governo. Se o link não tiver esse indicativo, mesmo que o portal tenha símbolos e cores governamentais, desconfie. É possível que você esteja diante de um site falso, criado para aplicar golpes.


Em um vídeo verificado pela Lupa, a gravação afirmava que, devido às fraudes no sistema do INSS, o governo federal decidiu indenizar as vítimas e que para sacar o valor, bastava acessar um site oficial indicado abaixo do post. Ao clicar no link era nítido que não se tratava de um endereço oficial do governo. Era um golpe. 
Acessando a página é possível identificar que URL – identificada acima –, que não existe o “.gov”, e sim um “.site”. Para tentar tornar o endereço eletrônico mais confiável, os golpistas tentaram disfarçar o endereço eletrônico inserindo  “/gov/” no link. Entretanto, um site do governo precisa obrigatoriamente conter um ponto final seguido de “.gov.br”. 
Fraudadores costumam criar sites ou perfis que imitam portais oficiais para enganar o público. Nesse caso específico, o site falso apresentava símbolos que remetiam ao governo e solicitava dados pessoais, além do pagamento de uma taxa de R$ 59,90. Prática conhecida como “Phishing”, quando um golpista se passa por uma fonte segura para conseguir roubar informações pessoais ou dinheiro. 
No dia 25 de abril – dois dias após a divulgação da fraude – o Ministério da Previdência Social emitiu um alerta afirmando que recebeu denúncias de segurados que foram abordados por golpistas via mensagens de SMS, WhatsApp e e-mails com a promessa de agilizar o recebimento dos valores descontados. O Fato ou Fake publicou uma matéria desmentindo esse tipo de golpe. 
Na nota conjunta do Ministério e do Instituto Nacional do Seguro Social foi comunicado que: 
“O INSS não está enviando e-mails e nem mensagens de Whatsapp para pensionistas avisando sobre “ressarcimento de acordos de mensalidades associativas”; aposentados podem verificar questões diretamente pelo Meu INSS”, informou a Previdência Social.
Em geral, é comum observar nessas mensagens de SMS e e-mails, por exemplo, um link que leva para o golpe que pede dados pessoais se passando por um órgão do governo. Por isso, neste momento, é sempre importante verificar atentamente se a URL possui o “.gov.br”. A URL funciona como o número do telefone: é por ela que você sabe com quem realmente está falando.
Captura de tela extraída do site falso

Vídeos manipulados 

Com o avanço das tecnologias de Inteligência Artificial (IA) que permitem que seja possível modificar o que uma pessoa disse em um vídeo. Isso significa que nem sempre é possível confiar em uma gravação. Por mais contraditório que  pareça, é preciso considerar: nem tudo o que foi falado, de fato, foi dito. 
Lupa tem identificado o aumento na circulação de deepfakes, nas quais figuras públicas ou pessoas famosas aparecem promovendo golpes. Um exemplo, envolveu o jornalista César Tralli, que supostamente falava sobre a possibilidade de receber o ressarcimento de valores desviados em fraudes no INSS por meio de um site. O vídeo era falso, foi criado com deepfake para dar credibilidade ao golpe. 
Vídeo de Tralli publicado originalmente no dia 21 de abril foi manipulado para aplicar golpe
No vídeo original, identificado pela Lupa na conta de Instagram de César Tralli, é possível ver que o assunto abordado não era sobre a Operação sem Desconto. Na verdade, o jornalista estava no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, rumo à Roma  para fazer a cobertura jornalística da morte do Papa Francisco. A estratégia revela que os criminosos se reinventam e cada vez mais usam imagens de pessoas que podem influenciar o público para gerar credibilidade e enganar os usuários.

Procure fontes oficiais e confiáveis

Para além dos telejornais e dos grandes portais de notícias renomados, uma forma de consultar informações oficiais é diretamente nos sites do governo. O portal “gov.br” reúne notícias e comunicados sobre as ações, atividades e políticas que foram ou estão em previsão de serem implementadas. 
A Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) recomenda a consulta diretamente nesse portal justamente nos casos em que existem alegações – nas redes sociais, por SMS, e-mail ou qualquer outro canal – de que o governo fez algum programa de indenização, ressarcimento de valores ou algo do gênero. 
“A primeira tela do site https://www.gov.br/pt-br já pergunta ao cidadão “O que você procura?”. Quando o site não mostra resultados para uma política, então ela muito provavelmente não existe”, recomenda a Secretaria de Comunicação.

Denuncie canais e sites falsos 

Ao verificar a existência de publicações nas redes sociais feitas por perfis que estão se passando pelo governo federal para aplicar golpes, é importante fazer uma denúncia. A Secom publicou um guia sobre como prosseguir com esse tipo de ação nas redes. 
No comunicado, é possível conferir como denunciar publicações fraudulentas ou desinformativas no Instagram, Facebook, WhatsApp, Linkedin, Tik Tok, X e YouTube. Para fazer a denúncia de uma mensagem recebida pelo WhatsApp, por exemplo, basta abrir a conversa com o usuário e escolher “mais opções”, depois clicar em “mais” e escolher “denunciar”.  

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