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Quando você entendeu o que foi a ditadura militar brasileira?
Teve gente que foi profundamente afetada por ela: sofreu tortura, foi preso, exilado, teve familiares desaparecidos e mortos. Teve gente que estava do lado de quem torturou, prendeu, censurou. Houve quem passou ileso pela ditadura, sem entender muito bem o que estava acontecendo. E teve gente que nasceu depois, quando tudo isso já tinha acabado.
Meu caso é esse último. Meu primeiro contato com a ditadura foi nas aulas de história do ensino fundamental. Sempre me perguntei como essas atrocidades podiam ter acontecido. Até entender que a ditadura foi muito mais do que uma foto em preto e branco num livro de história.
É aí que entra a importância do jornalismo.
“Muita gente ainda carrega na memória os sofrimentos vividos durante a ditadura, mas [essa memória] é frequentemente reprimida e deixada debaixo do tapete, seja por um discurso positivista que busca neutralidade na história ou por uma cultura política de conciliação que evitou o confronto com o passado”, disse Janaína Teles, familiar de desaparecidos da ditadura, professora de história e diretora do Centro de Memória Social da Uemg, no último episódio do podcast Pauta Pública. O jornalismo investigativo e independente tem o papel essencial de escavar a memória coletiva, confrontar o apagamento e investigar aquilo que muitos ainda preferem silenciar. Em um país onde arquivos seguem fechados e onde militares seguem tentando reescrever a história, reportagens que expõem os crimes da ditadura e resgatam a verdade são fundamentais para fortalecer a democracia. Memória e justiça caminham juntas — e o jornalismo é uma ponte entre elas. |
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A Pública existe para fazer esse trabalho. Investigar a ditadura sempre foi prioridade de cobertura desde a nossa fundação, há 14 anos. Já falamos dos laços do Instituto Butantan com generais brasileiros e chilenos, das mortes de camponeses e indígenas pelas mãos das Forças Armadas nacionais, da falta de preservação da memória de centros de tortura, da espionagem do Estado ditatorial, da repressão a greves de trabalhadores, das ligações entre empresas e ditadura e da importância do filme Ainda Estou Aqui para a Lei de Anistia.
São matérias que resgatam histórias, trazem novas investigações e perspectivas que marcam quem as lê. Por exemplo, sempre que vejo empresas como Ford, Volkswagen, Fiat, Paranapanema e Folha de S. Paulo, lembro das investigações da Pública que revelaram as violações de direitos cometidos por elas durante o período ditatorial.
Este aniversário de 61 anos do início da última ditadura militar brasileira é um marco contra o esquecimento. As reportagens que já publicamos — e as que ainda vamos publicar — são nossa arma na luta por memória, justiça e reparação.
Mas esse trabalho só é possível com o apoio de quem acredita na importância de lembrar. Apoie o jornalismo que não se cala diante da história. Ajude a levar essas histórias adiante, para que mais pessoas possam conhecê-las — e para que elas jamais sejam esquecidas. |
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Um abraço,
Letícia Gouveia Analista de audiências da Agência Públic |
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