Margarida sem terra ganha tornozeleira
Quem usa pistola: ela, o pistoleiro do patrão ou a Justissa?
publicado
15/11/2017

Margarida é agricultora. Veio pra
Rondônia atrás de um pedaço de terra. Achou terras devolutas e ocupou um
pedaço, com mais 52 famílias. Viveu lá por 7 anos. Plantou, colheu,
criou boi, porcos, galinhas. Nesse meio tempo, as terras de Rondônia
valorizaram muito - a soja subia do Mato Grosso e o preço do hectare
aumentou quase 30 vezes. Com a área limpa e o preço alto, logo
apareceram os antigos donos, que já não tinham mais direitos. Mas, no
Norte, direito e dinheiro andam de mãos dadas. O despejo de Margarida
não tardou e foi violento. Desesperada e deprimida, sem ter pra onde ir,
sofreu dois infartos seguidos de um câncer. Resolveu lutar e voltar a
ocupar as terras públicas que eram dela. Foi recebida por pistoleiros do
fazendeiro. Os companheiros reagiram e houve conflito, ficando um
ferido de cada lado. Na justiça, foi acusada de formação quadrilha e
lesão corporal. Pena de 9 anos e 10 meses. Está na penitenciária
feminina de Vilhena. Hoje chegou a sua tornozeleira. Margarida
continuará na luta. Não desistirá, apesar de tudo. No fim, chorei,
chorei e chorei. Não há como não chorar quando a gente encontra pessoas
nesse nível de sinceridade. Essa é a lição que a vida me deu hoje. Vamos
em frente, ainda temos um país pra construir. #amazoniaocupada
Assinado: Frei da Comissão Pastoral da Terra
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